domingo, 3 de fevereiro de 2008

Das pedras perfeitas.

Viu uma pedra.
E desejou estar ali até sua sombra- a da lua e a do sol, ir pro outro lado dela mesma.
Desejou virar pedra, desejou não ter mais sentimento, ser pedra e apenas ter a impressão, mesmo muito vaga, de ser uma pedra.
As pessoas, essas normais, ah, essas nunca pensaram nas pedras, ficam dentro de si mesmas sendo perfeitas com seus sorrisos.
Pedra pra não sentir ou pedra pra não existir?
Isso tanto fazia, sendo pedra, tendo o poder de ser invisível, ah, que sonho.

E nem nomes elas precisam ter, nem nomes.
Queria nomeá-la, mas tiraria o ar de inexistência.
Tirá-la do lugar, mas tiraria seu alinhamento perfeito.

Um tom, na ranhura da pedra, a fez pensar em vozes passadas, frases soltas de pessoas conhecidas, frases-pedra, certas coisas que ficavam pesando o corpo inteiro com dores.
Humanos sobrevivem sem pedras?
Sobreviveria muito bem sem certas frases e pesos-pessoas.

Quis ser muda, palavras são tão desnecessárias.
Ficas simplesmente ali, vendo a sombra andando no chão e nunca mais falar.
Odiou ter tanto sentimentos, odiou existir.

Existir.
Porque sequer pediu a existência e tinha tanto medo do fim dela?
Pedras deixam de existir? Pedras SABEM que existem?

Ah, pedras...

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