Madrugada.
Todos lá dentro, com suas infâncias e felicidade aflorando.
Festa, bebidas, bêbados fingindo estar bêbados pra dar felicidade à festa.
Todos dançam e eu, eu não tenho nada dentro.
Há uma filosofia que diz que não se deve amar, nunca, para jamais conhecer o sofrimento.
Porra.
Fumo meu cigarro e tento ficar imune.
A garota sai pra fora e me vê.
Merda, me descobriram.
Fala com sua voz de gato, me abraça, esfrega, tenta.
Hoje não.
Hoje eu não tenho nada por dentro e não quero passar isso pra você.
Melhor procurar outra coisa, não encontre nunca o amor, é o que eu te digo, mocinha.
Ela sai.
Olho pro céu e penso se a moça que me ensinou a gostar desse mesmo céu ainda lembra que ele é bonito tanto quanto ela me dizia.
Não deve lembrar.
Me lembro pré-adolescente, expulsa de casa, sentada em um banco.
Horas e horas esperando pra ir pra casa.
Como eu posso ter passado uma vida inteira só esperando?
Agora, eu espero o quê?
Mais um cigarro.
Chaminé.
Chá-mi-néa.
Ela falava bem assim e me arrancava o cigarro.
Eu fazia minhas manhas e ela devolvia, com aquela cara que eu nem sei como é, mas eu sei que era.
Depois os cachorros, as tardes quentes.
O cabelo grande e cheiroso, aquele cabelo.
Olhos, só me lembro de alguns olhos.
Nomes, esses eu não lembro mesmo.
Todas as garotas que passaram e deixaram algo.
As tatuagens, as filosofias perdidas, os ciúmes, a cumplicidade.
A praia, a praia com as promessas, as bolhas, os pés.
Boca, mãos, brigas, choro.
E eu espero, eu sempre estou esperando.
Esperando a perfeita chegar, a que vai vir, deixar algo e não ir embora.
Vai ficar.
Agora lembro da jovem senhora que me ensinou que se pode sim, amar uma pessoa, a mesma pessoa por 15 longos anos e ainda assim, estar apaixonada como no primeiro dia em que a viu.
Sorrio com a lembrança do amor.
Fumaça.
Melhor amigo que simplesmente sumiu.
Lembro dos olhos dele por trás da fumaça.
Como eu estou com saudades dele.
Merda, onde ele se meteu?
Eu precisaria de alguém agora pra me dar um sorriso.
Mais um cigarro.
No final, eu sei que sou só uma combinação de milhões de garotas que passaram pela minha vida e deixaram um pouquinho, uma imagenzinha, e depois sumiram e me deixaram cada vez mais vazia.
Apago o cigarro, volto pra festa.
Bebo, bebo e continuo sentindo porra nenhuma, mas ainda tenho o sorriso da lembrança do amor.
sexta-feira, 21 de março de 2008
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